TURISMO

PERÚ MOLHADO.
OUSADIA E IDENTIDADE

Setembro 05, 2022

Um jornal que teve mais de 30 anos de história e, por sua forma provocativa de abordar os mais diversos temas foi chamado de “O Pasquim de Búzios”. Esse é o Perú Molhado, criado pelo jornalista argentino Marcelo Lartigue e pelo português Aníbal Fernando em 1981 quando eles se decidiram pela cidade como moradia.
 
Vitor Viana, jornalista escritor e empreendedor na área de comunicação e que trabalhou no Perú por alguns anos é um grande admirador do jornal. Ele também veio de fora e diz que, assim como Marcelo, se apaixonou por Búzios, não só pelas belezas naturais, mas pelo grande número de pessoas incríveis que moravam ali. Para ele, a identidade da cidade é devido a esse material humano rico, diversificado e com ideias próprias. Ele acredita que a proposta do Perú Molhado foi  possível justamente por causa disso.
 
“O jornal deixou uma marca muito forte em Búzios, pois registrou a história da cidade. É um grande acervo, feito por meio de um registro satírico. O conteúdo tinha o objetivo de informar sobre Búzios e várias matérias eram jornalismo “de verdade”, enquanto outras eram piada, brincadeira.  Mas vou dizer: nenhum veículo defendeu mais os interesses de Búzios do que esse” diz ele.  No escopo desses interesses citados por Viana estão a emancipação de Búzios, as discussões sobre o saneamento e a afirmação do público plural da cidade, o que fomentou bastante o turismo. Mas pela própria personalidade irreverente do fundador, o jornal tinha suas questões.  “Os títulos e imagens eram provocativos o que rendia grandes confusões, mas também muito sucesso. Ficou pra história”, diz Viana.
 
O jornalista conta ainda sobre como as pessoas reagiam ao jornal, até porque a tiragerm era grande, 10 mil exemplares e as edições chegaram ao número 1234. “Alguns se ofendiam, outros eram fãs, como eu, mas podemos dizer que o jornal inventou a cidade de alguma forma. Servia como um divulgador de Búzios dentro fora do Brasil”. Entre as curiosidades, estão a edição escrita assumidamente em portunhol (uma brincadeira com a forte interação Brasil/Argentina na cidade) e também uma edição com tudo em branco, sem nada escrito, que foi um sucesso. 
 
Realmente, ousadia não faltava ao Perú.
 
Na entrevista do Viver Búzios com o Vitor, perguntamos como é a visão dele sobre a cidade, e o que ele acha que mais atrai as pessoas. A resposta foi esclarecedora: 
“De cara, o que atrai é essa beleza incrível. Mas isso também encontramos em outros lugares. Acho que o diferencial foram as pessoas que fizeram a identidade dessa cidade. Nas construções de apenas dois andares, por exemplo”. De fato, essa característica conserva um ambiente diferenciado. Octavio Raja Gabaglia, arquiteto e urbanista foi importante nesse processo, além de todas as pessoas locais que entenderam que o cuidado com o espaço era fundamental para o jeito Búzios de ser.
“Quem vem para Búzios tem, sim, de curtir o sol, o mar, mas sem deixar de frequentar a Rua das Pedras, o Porto da Barra, essa espécie de Babel. Porque Búzios não é só para pegar um banho de mar, é uma experiência de vida”, completa Viana.
 
Agora a pergunta que não quer calar... De onde veio esse nome? Perú Molhado? Viana nos conta uma das versões, mas já avisando que o próprio fundador, Marcelo disse que não tem certeza de nada.  Ainda assim, para ativar a imaginação das pessoas, vamos reproduzi-la: 
Reza a lenda que os dois fundadores estavam na sede do jornal, que também vendia os quadros de Aníbal, artística plástico. Estavam ali, pensando no nome do veículo, mas não no estado normal, talvez embriagados. Então entrou uma pessoa que estava inteira molhada para ver os quadros e eles não gostaram. Começaram a enxotar o homem dizendo: “Sai daqui, seu Perú Molhado”.  Foi assim que eles decidiram que esse seria o nome. Há outras teorias, inclusive tão irreverentes como jornal, mas Viana diz que ninguém nunca vai saber, até porque com o falecimento de Marcelo Lartigue, em 2014, o segredo foi com ele. O jornal também passou a se encaminhar para o fim a partir dessa data.
 
Uma coisa é certa: o veículo cumpriu sua função de informar, divertir e provocar!